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Filmes interessantes que abordam transtornos mentais e psicológicos

Sexta ou sábado de noite, com ou sem companhia — talvez com a própria, não é? —, um balde de pipoca, um cobertor e um bom filme. É um programa e tanto para quem prefere o conforto de casa e precisa recarregar as energias com roteiros instigantes, aventureiros, românticos, fantasiosos, de suspense ou terror. 

Independentemente do gênero, a verdade é que o cinema traz um leque de grandes opções que fazem você chorar, rir e torcer para aquele personagem cativante. Entretanto, já parou para pensar que boa parte dos filmes carregam algo a mais nas entrelinhas? Quem sabe uma situação abusiva, um personagem misterioso ou aquele relance de lembranças? Aliás, já parou para analisar se seu filme preferido não traz uma mensagem escondida?

Seria, então, a arte imitando a vida ou a vida imitando a arte? Tal questionamento deu muito o que falar, mas não é sobre isso que nos aprofundaremos aqui. A intenção deste artigo é justamente fazer com que você reflita a respeito dos filmes que vem consumindo, das retratações presentes e no quanto eles impactam a sociedade.

Cinema como ferramenta de impacto social

Geralmente encaramos os filmes que assistimos como mera forma de entretenimento. É claro que eles servem para isso e que nem sempre queremos ou estamos dispostos a analisar criticamente a abordagem empregada nas histórias retratadas, mas você precisa ter em mente que o cinema vai muito além de atrair e entreter o público. 

Atualmente, com a mídia influenciando e sendo influenciada pela sociedade, as produções culturais não servem mais como simples atrativos. Em grande parte, os roteiros cinematográficos de hoje carregam um quê da realidade que, na maioria das vezes, não conseguimos observar por conta do ritmo frenético do cotidiano.

A Netflix, por exemplo, é um case de sucesso que merece reconhecimento. Assim como outras produtoras ou plataformas de streaming, ela também traz em seu catálogo longas clichês e focados no mundo fantasioso. Porém, ao perceber o impacto desses filmes — ou até séries — na vida do público consumidor, passou a retratar o que é real, as minorias, os grupos excluídos da sociedade e assuntos tidos como delicados.

Por esse caminho, as pessoas rapidamente conseguem se identificar com personagens, cenários e situações. Assim, o que antes era ignorado — e talvez ainda seja por muita gente — ganhou espaço e atenção do público. Consequentemente, as temáticas consideradas "tabus", de pouco em pouco, estão perdendo tal rótulo.

Pensando nesse assunto, você consegue imaginar o quanto o cinema é importante?

A reflexão gerada pelos conteúdos produzidos com esse teor tem o poder de transformar a realidade, mesmo aquelas mais distantes. Isso porque os questionamentos que surgem com as histórias retratadas podem ser gatilhos para debates e o aprofundamento de assuntos necessários, como o boom das tecnologias e os transtornos psicológicos.

E quando os roteiros são bem trabalhados, em parceria com especialistas e pessoas que vivenciam experiências desse nível, o impacto social pode ser ainda maior e mais significativo.

5 filmes para se aprofundar sobre os transtornos mentais e psicológicos

A abordagem de temas sensíveis no cinema e na literatura vem se tornando comum e, de certa forma, um meio de fazer com que as pessoas consigam se identificar com os personagens retratados. Nisso, entra em cena a representatividade e o quanto ela pode ser relevante para a sociedade em que vivemos, repleta de questionamentos, críticas e diferenças.

Quando falamos em transtornos psíquicos ou mentais, não podemos deixar de pensar no quanto são temas complexos e que merecem cuidado. O problema é que poucas pessoas ainda encaram de frente esse tipo de conteúdo com a mente aberta. Por isso, separei cinco filmes interessantes que abordam situações nesse contexto para que você tire um tempo para assistir e entender melhor a importância da saúde mental. Acompanhe!

1. Forrest Gump

Dirigido por Robert Zemeckis e lançado em julho de 1994, Forrest Gump marcou o cinema com a história de um homem de intelecto limitado, apontado por muitos como um completo "idiota" devido ao seu jeito diferente de encarar o mundo e lidar ou se relacionar com as outras pessoas. O filme começa com o personagem ainda criança, acompanhando sua linha cronológica e suas vivências mais curiosas. 

Narrada em primeira pessoa pelo próprio protagonista, a história de Forrest nos traz algumas adversidades quanto às suas características: ele foi diagnosticado com problemas de mobilidade quando ainda era pequeno, tinha desvios de atenção e alta ingenuidade, bem como um QI abaixo da média. Na época, o diagnóstico preciso não foi efetivo, mas, hoje, podemos perceber uma tendência ao autismo ou à Síndrome de Asperger. 

Apesar disso, a mãe do rapaz sempre o encorajou a seguir seus sonhos e ter confiança sobre si mesmo. Assim, o longa perpassa momentos inesquecíveis da vida de Forrest, como o primeiro amor, a batalha contra as limitações que possui, a convocação à Guerra do Vietnã, as amizades e promessas vindas com elas.

"Mamãe sempre dizia que a gente deve deixar o passado para trás antes de continuar em frente."

É possível perceber, ao analisar com mais detalhes o filme, que Gump não é movido por comandos alheios, mas pela intuição, pelo impulso de querer fazer algo. Sem pensar muito no que pode dar errado ou nos obstáculos que terá que vencer, o personagem se joga no mundo sem medo do que o espera lá na frente.

2. Divertidamente

Quando pequenos, somos ensinados que os desenhos e as animações não servem para os adultos, o que é reforçado sempre que alguém com mais idade se rende a assistir produções como essas. Divertidamente, porém, é um belíssimo exemplo do quanto esse pensamento é equivocado e incoerente. 

Dirigido por Pete Docter e lançado em junho de 2015, o filme tem como foco a mente de uma menina de 11 anos de idade, chamada Riley. Apesar da pouca idade, sua vida está passando por mudanças que mexem com os sentimentos. É aí que conhecemos outros cinco personagens: Alegria, Tristeza, Medo, Nojinho e Raiva.

A Alegria é a líder no comando do dia a dia de Riley e quer que a menina esteja sempre de bom humor. As adversidades da vida, no entanto, fazem com que a Raiva tenha seu espaço, assim como os demais. A Tristeza, por outro lado, é evitada ao máximo pela Alegria, que definitivamente não entende o papel de um sentimento tão para baixo.

“Já olhou para uma pessoa e se perguntou o que passa na cabeça dela?”

No empurra-empurra de emoções, nos damos conta de que nenhum sentimento é melhor ou pior que outro, mas que todos são necessários para que tenhamos lembranças e memórias afetivas. O medo e o nojo, por exemplo, fazem com que sobrevivamos ao novo; a raiva, por outro lado, pode corrigir injustiças; já a alegria é aquela sensação que queremos sempre ter, porém na dose certa; e a tristeza, apesar de mal compreendida, é essencial para lidarmos com a vida.

3. O Lado Bom da Vida

O Lado Bom da Vida não traz somente um personagem com desiquilíbrio psíquico, mas dois. Lançado em fevereiro de 2013 e dirigido por David O. Russell, a comédia romântica em questão retrata a história de Pat Solitano Jr., um professor que perdeu tudo na vida por conta de seu temperamento explosivo. Depois de um tempo internado em uma instituição psiquiátrica, ele precisa voltar à ativa e superar o que lhe marcou no passado.

O fato é que, por ser ter sido diagnosticado com transtorno bipolar e recém ter saído de uma clínica de reabilitação, o homem precisa ser observado de perto e requer maior atenção por parte de seus pais, com quem vai morar. Seus principais objetivos são reconquistar a vida que tinha e, principalmente, a ex-mulher.

No entanto, as coisas começam a dar errado novamente quando Pat conhece Tiffany, uma viúva com dificuldades para superar a morte do marido, de comportamento agressivo e pouco simpática. E ainda que se estranhem inicialmente, a relação construída pelos personagens colabora para que ambos comecem a enxergar a vida de outra forma.

"Sempre haverá uma parte de mim que será detestável. Mas eu gosto disso."

No longa, não apenas questões psicológicas são abordadas, mas, também, pontos como o autoconhecimento, o perdão, o valor das relações e a força interior que cada ser humano carrega consigo. Ainda que a temática seja intensa, o filme conta a história de forma leve, com humor e sensibilidade.

4. Chemical Hearts

Lançado em agosto de 2020 pela plataforma Amazon Prime Video, dirigido por Richard Tanne, Chemical Hearts retrata a história de Henry Page, um adolescente comum focado nos estudos e no que quer ser quando se formar. Porém, isso muda quando ele conhece Grace Town, uma garota um tanto misteriosa e com um passado sombrio que a acompanha.

A sinopse lembra uma história clichê de romance jovem e descobrimentos previsíveis, mas a verdade é que o filme pode surpreender, em especial pelo comportamento complexo e confuso de Grace. A personagem, por ter vivido momentos angustiantes e de impacto negativo que moldaram o presente, acaba se deixando levar pelos sentimentos de culpa e raiva, reforçados sempre que alguém tenta se aproximar da sua vida.

Henry, por outro lado, é um cara transparente e divertido que está tentando descobrir qual é o seu lugar no mundo. Suas atitudes são baseadas no equilíbrio entre razão e emoção, o que cria um ponto de retração entre os personagens, já que ambos seguem linhas de pensamento e sentimentos diferentes.

"As pessoas são só cinzas de estrelas mortas. Somos um conjunto de átomos que ficam juntos por um breve período e, depois, nos desfazemos. Quando tudo isso terminar e nos dispersarmos pelo nada novamente, teremos um novo começo. É como ter nossos pecados apagados."

A ideia é justamente retratar que o amor é imprevisível e livre. Nem sempre iremos encontrar pessoas dispostas a caminhar na vida com a gente, talvez por incompatibilidades, talvez por desamor e, principalmente, talvez porque somos peças quebradas em busca de fagulhas para alimentar os espaços vazios.

5. Por Lugares Incríveis

Com uma temática mais pesada e intensa, temos Por Lugares Incríveis, dirigido por Brett Haley e lançado em fevereiro de 2020 pela plataforma Netflix. Nesse caso, trata-se de outro romance que tinha tudo para ser comum, mas vai além, acompanhando Violet Markey e Theodore Finch na tentativa de superarem traumas passados que ainda os assombram.

Violet sobrevive a um dia de cada vez, culpando-se pela morte da irmã mais velha e se afastando de coisas que faz com que se lembre da relação e do acidente. Isso também envolve pessoas e atividades que eram importantes em sua vida, mas que passaram a ter um peso a mais quando aconteceu a tragédia.

Por outro lado, temos Theodore, que não passa de um garoto "esquisito" dos corredores da escola. Semana após semana, era como se o rapaz pegasse um personagem diferente e vestisse sua personalidade, tornando-o confuso, incerto e instável, porém sempre com um sorriso estampado no rosto. Isso, é claro, contradiz o fato do porquê de o psicólogo da escola tentar fazer com que Theodore se abra.

“Às vezes, eu digo e faço coisas sem pensar. E as pessoas não gostam, elas gostam de rótulos, gostam de botar numa caixa. Elas querem que você seja o que elas querem.”

Em pouco tempo de filme, pode-se perceber que os dois personagens não são comuns — afinal, o que é ser comum hoje em dia? —, tampouco previsíveis. No fim, ambos estão apenas tentando sair do vazio, em busca de motivos para seguir em frente e curar os machucados internos. O problema é que nem sempre isso é possível.

Consuma conteúdos como esses e reflita sobre os temas retratados no cinema

Escrever sobre um filme não é o mesmo que fazer o outro assistir a ele. Por isso, se você tiver um tempo sobrando, separe os títulos mencionados e assista às produções com carinho e atenção. Geralmente, as sinopses ou resenhas não entregam o mínimo do conteúdo, e como estamos tratando de temáticas profundas, absorver cada detalhe é essencial.

Conteúdos como esses são de grande relevância, tanto para a sociedade quanto para conseguirmos enxergar a vida e as pessoas de outra forma. Provavelmente com mais empatia, mais cuidado. E se pararmos para pensar, talvez seja exatamente isso que falta no mundo: olhar para o outro se colocando no lugar.